segunda-feira, maio 30, 2005

pedaços do vento

se todo o tempo do mundo nos fosse suficiente
a eternidade-segundo, delírio do inconsciente
se todas as falas vazias se esfacelassem no elo
que ama na carne que sangra, que dorme no seio amarelo
se o zelo colasse a lágrima e a pétala em ruas extintas
o pêlo suasse verbo, alimento de línguas famintas
se o hoje virasse certeza, as horas se esqueceriam
o tempo perdesse destreza, as noites não devolveriam
o cheiro que o vento me trouxe, e um dia me pode levar
se as léguas que um dia separem não hão de nos evaporar
as gotas desses amanhãs fossem versos no afã de semente
nem todo o tempo do mundo nos seria suficiente

quarta-feira, maio 25, 2005

silêncios

O tímido cair da noite chora em respeito à minha dor. Com um ar de dias desbotados, a lágrima engole-se no olho e nega-se ao mundo. Alma desfolhada, cansada, lateja ébria sua exaustão doce.
Para além do elo tácito que nos desune, nossa história engoliu cacos de horas caídas ao chão. O tempo não poderia esperar por nós. Enquanto ela se afastava, o mundo de folhas secas desabotoou-se sob o céu escuro. Embaixo das marquises, a chuva é um amigo mais velho que se compadece e sorri saudades mortas, gritadas de cima das casas molhadas e indefesas.
Entre as paredes e pernas, arrancam-se as blusas, os peitos nus se beijam, os olhos se cruzam, o amanhã não se sabe. A chuva não pode levar a beleza de um dia triste.

sábado, maio 21, 2005

pela tarde

celebrar-se doce inconseqüente
mergulhar no seco eterno instante
na lágrima que ri
na face rente
meu pranto só não hei de achar quem cante
o tempo passa
antes que se possa
o olho pisca
o beijo cala
a história passa e não é a nossa
o instante hostil emudece a fala
o elo alarga
(ela já não sabe)
o que há de vir
se o olho sua
o que era antes hoje já não cabe
ainda assim a tarde continua

quinta-feira, maio 05, 2005

para os que estão longe

do instante que sente
separa
da história que pulsa
parte
dos tantos que vão
(aonde?)
sentido distinto
sentimento de instinto
diz tanto de nós
amor de cerne
carvalhos que somos