segunda-feira, novembro 29, 2004

cena

esfacelada
falece na cela
ex-faz ela sudar o chão
a face ao lado não fala
só ela, se ela ainda fosse
(por fácil)
resta o chão à face

quarta-feira, novembro 10, 2004

seiva bruta

árvore muda
o silêncio e o caos não podem comedi-la
alguns metros de léu não podem co-medi-la
a árvore é muda
seu olhar para o céu é tão grave que clama
ou chama
a árvore muda
pingam gotas de verde-seco
pranto em plasma e seiva bruta
a árvore muta
árvore-shiva
multibraços que bailam o nada e o rasgam
a árvore já não
cresce
ressoa o silêncio e em tempo se esquece
permanece

sexta-feira, novembro 05, 2004

Quando as pálpebras se escancaram

A tristeza respingou preto na pureza das vidraças. Pingavam máculas de sangue roto, vomitadas por olhos cansados e perdidos. Chovia um zumbido agudo e constante de dor.
Exaurida pelo sofrimento, ela chorava sobre as colchas que exalavam indiferença; afogava-se num desespero empoeirado, que engolia aos goles seus últimos lampejos de consciência.
Sozinha na tempestade, suas lágrimas lavaram seus pecados num pranto solene; nódoas de abismo se tatuaram no seio de sua solidão.
Logo levantou-se e engoliu os soluços, mãe de si mesma.