quinta-feira, abril 05, 2007

meu amor, a vitória do mundo se contradiz às nossas esperanças, não podemos mais seguir pelo instante inalcançável do tempo futuro, sempre, é certo que o mundo não se mede com estes olhos, o corpo não se mede com sintaxe, talvez haja em nós mais verdade que se possa suportar, as insuficiências, as palavras destituídas de sentido, é duro fugir, talvez o percurso nos exija assassinatos, o mundo se coloca em frente aos nossos corpos, essa memória compartilhada, a imensa memória, carregada de temperaturas, quantas vezes não quisemos morrer às portas um do outro, de frio, chorando pelo abraço indispensável desse mundo quente que foi o nosso, essa redoma de passos incertos e sonos feitos de nuvens, mas a dor é que um dia te verei noutra vida, longe da nossa manta rosa, com outras cortinas e cheiros, esse teu mundo será violentamente outro e em mim morrerá abruptamente um pedaço da carne, seja outra a passagem dos nossos corações no instante em que não se realizarem em nós as antigas promessas de música, nunca foi impossível se debater contra as vozes da morte, eu sei e ainda sinto a dúvida, eu sei excessivamente dos limites da porta da casa; mais uma vez minha vida de longe, meus passos às vezes dolorosos, se alguns dos novos trajetos recuperassem as migalhas e a vontade de deixar ser plantado no eterno novo lugar, inesgotável na memória de nossa co-presença; seremos outros, nos olharemos inevitavelmente mais uma vez, tentando sufocar o calor do corpo por tantos instantes em que o tempo nos incrustou pequenas pedras, o que há de se fazer, meu amor, senão aguardar o juízo da vida dizendo sobre o que um dia cremos ser a verdade para a dor dessa loucura.


reescrita / plágio