terça-feira, fevereiro 21, 2006

as pessoas e os campos de rosas

A casa foi esvaziada de seus nomes e trajetos;
era toda limites fotográficos.
Uma só paisagem de tempo, desmembrada
por todos os grãos de espaço que se espalhavam ao chão doce.

A casa foi mutilada em seus gemidos e diálogos
e era sempre a inconsequência da música.
Vieram as pessoas e o que havia entre elas,
além de algum tempo, um outro gosto.

A casa foi fragmentada em seus passos e canções.
Eram os sons cíclicos, sempre a dizer algo a mais:
sons para a pressa e a sede, quando do amanhã distante.

A casa foi demolida em seus momentos e degraus.
Era uma casa dócil:
o tempo corria ao redor de seus passos.
O tempo corria ao redor.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

sensível


nasceu o sol
sustenido

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

um longo momento de suspensão

Era tempo de sentir-se só. Choro desabotoado pelos descaminhos da vida, ou talvez um tempo guardado entre pétalas de alguns dias claros. As mãos tornavam-se pesadas, os olhos baixos: ouvir a melodia das próprias lágrimas, um alívio amargo. Por onde vagassem os passos, o gosto era sempre o mesmo, e nunca vinham certezas. A solidão de um útero abandonado.
Ressoaram as canções, e delas brotaram novas gotas de chuva triste. A lembrança embriagada de um tempo quase distante, a memória sorvida em goles de sede e algum desespero. Vieram as nuvens, as saudades; viriam ainda muito mais. Ferida crônica, as canções eram uma só e tinham cores do fim do dia. Tempo de sentir algum frio, de respirar a própria dor: um rasgo latejante, de águas turvas. Era a sensação do sem lugar, de um longo momento de suspensão.
Por algum tempo de silêncio, respiremos.