terça-feira, julho 12, 2005

àquele que permanece

Algum gosto de terra pela manhã.
Espessura primeira do tempo: a comida era forte, virginalmente rude.
Notoriamente compulsivos, aqueles dias se arrastavam pelas quinas da casa vazia. O tempo retorcido, despedaçando as paredes. Pela janela vinha um vento frio, perscrutando o cheiro eterno da ausência. Páginas melancólicas que se desdobravam num impulso tênue e contínuo, como uma música sempre ao longe.
Os olhos semicerrados. Tempo de silêncios, de palavras ensimesmadas e duvidosas. O espaço ensaiava intensas geometrias aéreas. Como faz frio...! Não havia de levantar-se, mesmo que disso morresse o poema, ou congelasse ali mesmo. Os olhos mantinham-se resignadamente doces.
Agora eram os dias revisitados em negativo, no recorte idêntico de outrora. Mãos esquecidas, lábios longamente ressecados. Drama do peso de toda presença: o sol chegava bissexto.
E não é que por um instante tudo fez sentido? E logo esse instante se foi...