pequena cena de minutos e ânsias
A casa vazia. Os minutos caminham devagar. Espero. O mundo além das cortinas respira cansado. O tempo me mastiga doce.
Coisas que saíram do lugar se escondem pelos cantos delicadamente sujos. As mãos tremem, vacilam ante o vazio dos corredores estreitos: o pulso ecoa nas poças de silêncio.
Espero. Talvez em vão. Talvez os minutos queiram apenas me contar uma história qualquer, me entreter com seu ar de lenta e silenciosa digestão. Não que não haja alguma compaixão no olhar dos ponteiros. De fato, até me causa um certo conforto sua insistente melodia de uma nota só. É tênue, entretanto, a linha que separa a tragédia do riso. Sem opção, espero.
Um ruído. Seriam passos nas escadas? O longo e escuro hiato que se sucede parece dizer não. Palavras de pedra: espero. Falemos de casas, do loquaz exercício de regurgitar idéias alheias. Idéias pontiagudas, cumes de dores lentas e grosseiras. Falemos de silêncios, das amargas eloqüências do não-dito. Hipóteses que ardem num momento qualquer. Falemos de momentos, de átomos de tempo. Ou calemos.
Espero. Na suave ânsia de um dia inteiramente em paz.
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