segunda-feira, junho 05, 2006

um início de chuva

reescrita / plágio



Mãe, tu que um dia acordaste com os olhos em cinzas
recolhe pelo chão os despedaços dos amores de teus filhos.
Alimenta-os, e fecha as cortinas para protegê-los da luz
- pois sabes que não podes protegê-los das pessoas do mundo.

Sentes que talvez haja momentos
em que essa tua espécie será a mais fraca,
e darias a própria vida pelas fomes de teus filhos.

Mas o teu silêncio também tem fomes,
o corpo também dói, às vezes, quando é noite
e o quarto está escuro e vazio, e há vento.
Quando os filhos dormem em paz,
mas ainda há uma prece que soa, longe.
Talvez um choro em outro idioma.
Talvez um início de chuva, apenas.
Mas é quando há dor pelo teu corpo
e o que sobrou é um resto de música cíclica
e todos os filhos dormem em paz
- mas há em si, ainda, uma dor -
é que podes chorar pela própria vida, por toda a noite.